Ao elaborar um planejamento de aposentadoria, um dos itens mais difíceis e
complexos de lidar, são os custos com a saúde.
Não sabemos quanto tempo viveremos e que tipo de doença poderá nos
acometer, e quais os cuidados e medicamentos terão que dispor. Sobretudo,
sabemos que, estatisticamente, estamos vivendo mais tempo, porém nem sempre com
a qualidade e padrão que gostaríamos.
Somadas as essas incertezas, temos um ponto crucial: quanto nós
gastaremos com o plano de saúde ou seguro saúde?
Aqui tenho que abrir um parêntese. Segundo o IBGE 75% dos brasileiros não
possuem nenhum plano ou seguro saúde, nem planejamento de aposentaria
complementar. Ou seja, dependerão exclusivamente da aposentadoria oficial e do
SUS. Situação cada vez mais preocupante, em face da estrutura deficiente e
crítica das instituições públicas e falta de projetos de médio e longo prazo.
Os planos de saúde possuem reajustes de preços controlados pela ANS –
Agência Nacional de Saúde, fato que torna um pouco mais fácil de projetar o
orçamento pessoal, pois normalmente esses reajustes acompanham de perto os
índices de inflação. Por outro lado, estes planos estão fadados ao fracasso e
extinção. As operadoras não querem mais oferecer esse produto. Muitos deles
estão em dificuldades financeiras e dão coberturas limitadas, descredenciam
hospitais, laboratórios e profissionais. Remuneram mal os prestadores, atrasam
o pagamento, glosam pedidos médicos e dificultam o acesso aos serviços.
Por outro lado, o seguro saúde tem uma rede de prestadores maior e mais
qualificada. As operadoras preferem trabalhar essa modalidade de serviço, pois
fogem à regra da ANS de reajuste de preços. Estes são praticados de acordo com
a sinistralidade da carteira, e esses dados não são de fácil acesso dos
segurados. Então eles praticam os preços que bem lhes convier. Nos últimos anos
foram sempre muito acima da inflação.
Se acaso o cidadão for pagar por um serviço médico, nos deparamos com um
absurdo ainda maior: os preços são diferenciados. Exames laboratoriais,
principalmente. As operadoras remuneram, pelo mesmo exame valores infinitamente
menores do que um usuário individual. As consultas médicas, da mesma forma. Na
média, uma consulta custa R$250,00 em São Paulo, as operadoras remuneram os
prestadores em R$50,00!Uma colonoscopia custa cerca de R$10.000,00 (dez mil
reais), caso você não tenha um plano qualquer; as operadoras reembolsam aos
prestadores cerca de R$ 800,00 (oitocentos reais). São diferenças absurdas, sem
nenhum respaldo jurídico, lógico ou financeiro. As autoridades fingem que não
sabem. Segundo o código do consumidor isso é proibido. Mas nada é feito para coibir
essa prática conhecida por todos.
O grande desafio é projetar os custos com o seguro: temos que trabalhar com
uma grande margem de segurança para que no futuro não tenhamos uma desagradável
surpresa ao perceber que a conta não fecha.
Observamos que o governo é omisso a esse respeito. As informações
estatísticas são conhecidas: o envelhecimento da população, o estrangulamento
do sistema público de saúde, as dificuldades dos planos tradicionais de saúde e
as baixas remunerações da Previdência Social. O Estado não cria mecanismos de
incentivo aos planos de saúde e seguro saúde, que podem desonerar a rede
pública. Não promovem alternativas a essas modalidades ineficientes e onerosas.
Corremos o risco de um empobrecimento ainda maior da população que está envelhecendo,
triste e doente.
O que assistimos é uma falta de respeito aos cidadãos e a constituição.
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